domingo, 4 de abril de 2010

.desencontros

[sei que quem passa aqui pelo blog não costuma ler meus posts maiores, prefere uma certa brevidade... mas acho que vale a pena dedicar uns cinco minutinhos... nessa crônica, o autor se refere a pessoas com idade entre 35 e 50 anos, mas serve também para nós, que somos 'discretamente' mais novos que isso...]

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"Eles querem, elas querem, mas o encontro não acontece."


"Você pode realizar bons estudos sociológicos frequentando bares, botecos e afins. É lá que costumam se reunir grupos de homens e mulheres, buscando se divertir. Separadamente. O jogo de sedução, felizmente, corre solto. Mas há algo de errado nessa história. Tenho amigos que, apesar de saírem muito à noite, continuam reclamando da solidão.

Como traduzir isso? Parece que a festa termina quando a porta desses estabelecimentos fecha. O máximo a que se sentem autorizados é fazer parcerias provisórias. Que podem se estender até a manhã seguinte, mas não muito além disso. Estou falando de pessoas entre trinta e cinco e cinquenta anos, média de idade que se encaixa nesse perfil. O fato é que, apesar de toda a liberdade conquistada, ainda há muitos entraves dificultando o caminho.

Mulheres buscam companheiros que as ouçam, que guardem algum resquício de sensibilidade, aliado a uma boa dose de testosterona. Para elas, a idade desses eventuais futuros namorados não tem muita importância. Seu olhar está menos atrelado à rigidez muscular e mais a um desejo de partilhar o cotidiano - coisas bem simples, como uma ida ao cinema, ao supermercado, jantar num restaurante. Filhos já não são uma premissa básica para que fiquem juntos. A perspectiva muda com o passar do tempo e os valores adquirem nova configuração.

Homens são mais predadores, sucumbem diante da beleza física, transformando o caráter e a personalidade da eventual presa em algo muitas vezes secundário. Entre risos de viés e pequenas investidas que demandam uma certa capacidade de aceitar a rejeição, seguem cumprindo um papel que lhes foi destinado desde sempre. Muitas vezes essa aproximação é feita mais de equívocos do que de acertos. O medo de iniciar um vínculo mais profundo os afasta de mulheres que se posicionam com segurança em relação ao que querem. Dividir poder ainda assusta, quando nos acostumamos a dar a palavra final em quase tudo.

Eles querem, elas querem, mas o encontro não acontece. Se acontece, é meramente físico, tendo alguns desdobramentos nem sempre felizes. Ou seja, todos empenhados em viver aos pares, mas amargando tantas frustrações que acabam se sentindo com o prazo de validade já vencido. Quem está fugindo de quem? Como no excelente filme Corra, Lola, Corra, passam a maior parte do tempo em estado de angústia, atravessando todo tipo de obstáculo sem perceber que o final feliz pode depender de um pequeno gesto, um caminho diferente que se tome. A ousadia de parar e reconhecer quem nos interessa ou quem devemos descartar. É reconfortante constatar que o universo social tem facilitado consideravelmente as aproximações. Talvez pequenos ajustes pudessem evitar uma boa dose de tortura emocional. Ainda é possível encontrar seres que habitam o mesmo planeta que nós. Menos taquicardia, menos voracidade ao virar o pescoço feito um periscópio. Não é fácil, claro, quando percebemos que o relógio biológico pode se transformar num inimigo. A velha dualidade sempre existirá, mas quando ela se converte numa arma só aumenta a tristeza que tem recoberto de sombras o olhar de tantos.

Que a noite seja mais do que um duelo. Seja o reconhecimento de que a fome é a mesma para todos os que buscam."


.gilmar marcílio [texto retirado do jornal pioneiro deste fim de semana - às vezes ele traz alguma coisa boa pra gente ler...].

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9 comentários:

Silvia disse...

"A ousadia de parar e reconhecer quem nos interessa ou quem devemos descartar."

Muito verdadeiro.

Beijo Ana, adorei o texto!

Anônimo disse...

Atos grandiosos, vícios, como tal, satisfazem temporariamente, sempre.
Simplicidade não é contentamento, é escolha.
Boa semana moça, bjinhos ;)

Flavih A. disse...

"Eles querem, elas querem, mas o encontro não acontece."

Putz. Esse texto é a verdade mais pura.
Perfeito Ana, adorei! *.*

Beijooos

Daniel disse...

Acredito que com o passar dos anos o ser humano vai adquirindo uma personalidade e não deixa que algo a muda com facilidade. Quanto mais velho, mais difícil de mudar. Acho que entende o que quero dizer. Então acho que por essa razão é difícil para duas pessoas do sexo oposto se entenderem após certa idade. Não que isso seja regra, mas pode ser um dos motivos.

Ah, os homens tem medo sim de mulheres que seguras e que sabem bem o que querem. Mas há exceções também.

Uma característica do seu blog são as poucas e sábias palavras que usa aqui, talvez, por isso, que você possa achar que as pessoas não lêem quando escreve mais.
Beijos

homero luz disse...

Apesar de ainda faltar bastante tempo para chegar a idade indicada no texto eu já me senti emalgumas situações será que já sinto o relógio, acho que não é só um sinal de mudança nos tempos mudança essa que pode ser positiva ou negativa e nos resta a posição de espectador para ver como termina, no mais belo texto Ana. E ai já começando a sentir o frio do inverno?

Larissa disse...

Me identifiquei mesmo estando tão, tão longe dos 30. Mas a superficialidade dos relacionamentos, da felicidade, está perdendo a idade, o momento. Está tudo cada vez mais cedo... uma pena.

Comentei agora o seu post passado, um dos mais incríveis que já li aqui (dentre tantos que eu amei!)

Parabéns por isso aqui viu, um dos melhores blogs que conheço, certeza!

;*

.ana disse...

Larissa, Daniel... obrigada :)
[*bem boba eu*]

e homero... amoooooooooo esse frio. fato.

Sempre Que Penso... disse...

Sinto que essa faxa etária vem diminuindo as 25 já da pra sentir que homens estao ligados d+ a beleza fisica, assim fica dificil pra nós mulhres encontrarmos companheiro para tardes infinitas com conversa a tóa...

bjaum'

anaa ' disse...

adorei o texto, totalmente verdade '-'