quarta-feira, 6 de julho de 2011

.[re]virando

.entre o trabalho, o café e o ócio, um pouquinho dela: rita apoena - cartas antigas V e VI.
metafóricas e poéticas.
[sempre tem farelinhos do blog dela aqui no meu - junto aos farelos de chocolate aqui no teclado.]




"(…) Quanto tempo a gente leva para repousar os olhos nas pessoas ao nosso redor? E ir deslizando pelos pequenos detalhes, na beleza não manifesta e, ao mesmo tempo, ofuscante? Quanto tempo a gente leva para repousar os olhos nos olhos do outro, sem qualquer pressa, sem procurar ali dentro o próprio reflexo? Foi esses dias, eu aninhei as mãos de minha avó por dentro das minhas, encostando o meu rosto em seus dedos tão frios, como se ela tivesse acabado de nascer em seu corpinho já envergado pelo tempo e marcado pelos dias. Naquele segundo, eu entendi que nada era mais urgente, nem mais importante, do que ouvir a minha avó reaprendendo a falar… e que eu sequer começaria a ver alguém – além de mim mesma – se não pudesse enxergar as pessoas para as quais olhei a vida inteira."

*

"(…) será que, às vezes, a gente vai com tanta pressa ao encontro de alguém que se esquece de se levar junto? Será que o Sol, quando é muito forte, faz a sombra chegar primeiro do que a gente? Será que é assim que tudo acaba? Ou nem mesmo começa? Acordei com uma fresta de luz brincando na cama, o sol deitando a sombra das folhas em minhas pálpebras. E era tão bonito e simples ver a luz pintando os móveis de colorido que entendi o fim de um casamento: nenhum amor floresce preso numa casa, sem contemplar, por instantes, a luz de uma tarde… Então, guardei aquela fotografia por dentro dos meus olhos para quando eu olhar você. E você, como sempre, não me respondeu palavras, não me escreveu palavras, mas quando o sol foi sumindo, me estendeu sorrindo o seu cachecol xadrez."
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4 comentários:

Daniel disse...

Quem determina o tempo que levamos para entender uma pessoa e/ou determinada situação é o nosso CORAÇÃO.

Daniel

Guiga disse...

Que delícia voltar aqui!
Voltei a escrever, amiga!
Se quiser acompanhar :)

Beijo com gostinho de saudade ♥

Gui

Unknown disse...

Uauu!

Bom, em ambas passagens, fica nítida a descoberta da importância das pessoas em nossas vidas.
Mas, pelo que vejo, está cada dia mais complicado.(pessimismo=ON)

A cobiça domina o homem e ele, por sua vez, a adora. Já dizia o filósofo aquele. Isso nos cega sem piedade.
Mas enfim, é bom saber que existem excessões. =)

Leonardo.

Anônimo disse...

É sempre bom ler as diversas formas como o tempo e a memória são retratados. Muito boa crônica... Também achei criativo as formas que a fotografia, o olhar e o toque são abordados no texto.