sexta-feira, 25 de abril de 2008

.em branco, preto e vermelho [3]

É...
Passando vistas grossas sobre Liesel, qualquer um diria que ela é uma grande ladra. Mas que nada. De livros, tudo bem. Mas de maçãs... nem tanto. [a situação às vezes forçava a alguns atos desse tipo.]
Mais
um trechinho do livro... entre um roubo e outro...


Uma breve descrição:
Rudy e Liesel, após roubarem um pomar, se entupiram de maçãs. Tanto que ela passou a noite vomitando. Mas valeu a pena. Ah, valeu sim. Há quanto tempo o estômago dela não recebia tanta fartura?
Era uma época muito difícil, comida escassa. Qualquer coisa que possa parecer banal aos nossos olhos, pra eles era um presente inestimável.
E balas, então? Qual criança não gosta?
E é aí que me refiro...



"A LOJISTA ARIANA
.
Pararam do lado de fora da loja de Frau Diller, encostados na parede caiada.
Havia um pedaço de bala na boca de Liesel.
O sol batia em seus olhos.
Apesar dessas dificuldades, ela ainda conseguiu falar e discutir.
.
- OUTRA CONVERSA -
ENTRE RUDY E LIESEL
- Ande logo, Saumensch
, já foram dez.
- Não foram, foram só oito, ainda tenho mais duas.
- Bom, então ande depressa. Eu disse que a gente devia ter pegado uma faca e cortado ela ao meio... Ande, já foram duas.
- Está bem. Tome. E não engula.
- Eu lhe pareço um idiota?
[Uma pequena pausa]
- É o máximo, não é?
- Com certeza,
Saumensch.
.
No fim de agosto e do verão, eles acharam um fênigue no chão. Pura empolgação.
Estava caído na terra, meio estragado, no trajeto da roupa para lavar e passar. Uma moeda solitária e corroída.
- Olhe só pra isso!
Rudy a arrebatou. A animação chegou quase a espetar, enquanto os dois voltaram correndo para a loja de Frau Diller, sem sequer considerar que um único fênigue talvez não fosse o preço certo. Irromperam porta adentro e pararam diante da lojista ariana, que os olhou com desdém.
- Estou esperando – disse ela. Usava o cabelo preso para trás e um vestido preto que lhe sufocava o corpo. A foto emoldurada do Führer vigiava a parede.
- Heil Hitler – fez Rudy.
- Heil Hitler – ela respondeu, empertigando-se mais, atrás do balcão. – E você? – disse, lançando um olhar furioso para Liesel, que lhe ofereceu prontamente seu “heil Hitler”.
Rudy não demorou a tirar a moeda do bolso e colocá-la com firmeza no balcão. Olhou diretamente para os olhos de Frau Diller, cobertos pelos óculos, e disse:
- Balas mistas, por favor.
Frau Diller sorriu. Seus dentes se acotovelaram para arranjar espaço na boca, e sua gentileza inesperada fez com que Rudy e Liesel também sorrissem. Por pouco tempo.
Ela se inclinou, procurou alguma coisa e reergueu o corpo.
- Pronto – disse, jogando uma única bala no balcão. – Misture você.
.
Do lado de fora, eles a desembrulharam e tentaram parti-la ao meio com os dentes, mas o açúcar estava duro feito vidro. Duro demais, até para as presas animalescas de Rudy. Em vez disso, tiveram que alternar chupadelas até a bala acabar. Dez chupadelas para Rudy. Dez para Liesel. Para lá e para cá.
- Isso é que é boa vida – anunciou Rudy, a horas tantas, com um sorriso de apreciador de doces – e Liesel não discordou. Quando terminaram, os dois tinham um tom vermelho exagerado na boca e, ao caminharem para casa, lembraram um ao outro de ficar de olho aberto, para o caso de acharem mais uma moeda.
Naturalmente, não acharam nada. Não se pode ter uma sorte dessas duas vezes num ano, que dirá numa única tarde.
Mesmo assim, de línguas e dentes vermelhos, os dois desceram a Rua Himmel, vasculhando alegremente o chão na passagem.
Tinha sido um dia genial, e a Alemanha nazista era um lugar maravilhoso.”

.
.
e agora chega, senão vou estragar a leitura alheia. =D

3 comentários:

The Heart of Lilith disse...

Tu podias postar o livro todo né?!

=]

.ana disse...

se eu tivesse tempo, lógico que sim!
=D

Anônimo disse...

mto bom esse livro.. tô lendo!!!
=)