Livro do findi, bem legal: Selma e Sinatra, da Martha Medeiros.
[acompanhado de litros de chá de erva-doce, entãooo... afff! heheheh. aliás, uma coisa que eu sempre digo, e cada vez tenho mais certeza: virose é tudo aquilo que a medicina não explica. por exemplo: enjôos, febre e dor no corpo = virose. vômitos, febre, dor de cabeça = virose. dor no corpo, tosse, espirros = virose. sempre é virose. não importa, é um ciclo. em até 7 dias passa. então, médico pra quê, né?]
mas voltando...
eu já tinha lido esse livro. ganhei de uma amiga há anos, na época li e não achei grande coisa. lembro até que pensei: "o negócio da Martha é fazer crônicas mesmo...".
mas não.
acho que às vezes a gente lê as coisas na hora errada.
a história é interessante, mas o bom do livro é que tem muitos diálogos... e coisas que fazem a gente pensar na vida.
dá pra ler numa sentada, em duas horas e era isso.
Conta a história da Guta, uma jornalista meio fracassada... que escreveu três livros, sem sucesso... que tem uma vida mais ou menos, um emprego mais ou menos, ganha mais ou menos, é mais ou menos bonita, não deu certo com homem nenhum... enfim. uma pessoa bem mais ou menos. apesar de tudo isso, ela é convidada a escrever a biografia de uma das maiores, melhores e mais famosas cantoras brasileiras: Selma.
Selma, a toda perfeita, com uma vida perfeita... desde a infância, até o casamento, a carreira, os filhos.. tudo perfeito.
e o excesso de perfeição irrita muito. dá sono. cansa. ninguém pode ter uma vida tão certinha assim...
Mas a Guta consegue, um dia, achar um furo na vida da Selma. ela transou com o Frank Sinatra! [ooooooohhh... grande coisa, eu pensei! ¬¬']
mas pra ela foi grande coisa sim... a sra. perfeição, casada, fazer uma dessas... aiaiai!
e por aí a história se desenrola...
na verdade, esse enredo não é dos melhores mesmo. mas tem várias conversas entre a jornalista e a cantora que valem a pena, principalmente quando elas começam a se bicar.
deixo algus trechos aqui...
"- Você deve estar brincando, Selma. Nada do que você faz é deselegante, nada é incorreto, nada é sofrido. Você é a pessoa mais abençoada da face da Terra. Os deuses conspiram a seu favor, não há uma única mácula no seu currículo.
- E isso é bom ou é ruim?
- Deve ser um êxtase, quem além de você pode nos dizer?...
- Desculpe, Selma, desculpe. Claro que é ótimo. Quem não desejaria viver bem? Só não sei se... sei lá, talvez eu esteja me precipitando, ainda conheço tão pouco da sua vida... mas é que...
- Diga.
- Está tudo muito linear, entende? Muito conto de fadas. O leitor espera entrar profundamente na sua intimidade. Selma, eu gostaria de saber mais sobre seus medos, sobre suas frustrações, suas inseguranças. Para humanizar o livro.
- Para vender o livro, você quer dizer.
De novo a velha disputa entre mercado e arte.
- Não, eu quis dizer para humanizar mesmo. Selma, as pessoas sabem a carreira brilhante que você construiu. Conhecem sua voz, seu talento, compraram seus disco. Já viram entrevistas suas na tevê e nas revistas. Sabem que você foi muito bem casada e que depois que enviuvou não voltou a casar. Mas isso aqui não é uma entrevista. Eu vou colhendo material para uma biografia.
- Muito bem. Pergunte.
- Este casamento sensacional, cinematográfico e apaixonado nunca sofreu nenhum abalo?
- É isso que humaniza uma pessoa? O que ela sofreu?... Guta, pelo visto tenho muito a aprender com você. O que é uma perda violenta? Perder o horário da manicure? Como você pode saber o que eu senti?
- Eu falo de outro tipo de perda. Da perda de si mesmo. A perda de um amor que não se concretizou, a perda de um sonho. A perda de algo que deveria ter acontecido e não aconteceu. Essas coisas que não permitem que nosso destino se realize, ao menos não o destino que a gente idealizava. Você entende sobre o que estou falando?
- Entendo, Guta, mas não posso corresponder às suas expectativas. Meu destino era ser cantora e fui cantora. Sou cantora. E uma das melhores do país. A melhor, sendo exata. Eu tive poucos namorados, logo conheci o Henrique, me apaixonei por ele, casamos e fomos felizes até o dia que ele entrou naquela sala de cirurgia para operar o coração e de lá nunca mais saiu. Meus dois filhos não vivem comigo porque eles têm a vida deles, é natural. Me telefonam, me visitam, o que mais pode se esperar de dois marmanjos? Eu estou aqui, com 70 anos nas costas, bem amparada nas minhas duas pernas e passando batom até pra dormir, porque a única interrupção violenta que eu conheço pode acontecer comigo a qualquer hora do dia ou da noite, e não pretendo ser pega desprevenida. O resto não é interrupção, filha, é continuidade. Nada se interrompe enquanto estivermos respirando.
- O que é que lhe dói?
- Rugas. Rugas doem mais do que pedra no rim.
- Eu estou falando sério.
- Eu também.
- Desculpe, Selma. Acho que estou forçando a barra.
- Você está apenas desapontada por eu ser feliz.
- Não, eu não sou nenhum espírito de porco, não me interprete mal. É que me custa a creditar que alguém não tenha conflitos. Todo mundo tem conflitos. Conflitos imensos.
- Não estou dizendo que eu não tenha, Guta. Não são imensos, são modestos. O que eu não acho é que eles sejam mais interessantes do que as minhas alegrias, do que as minhas vitórias.
- Desculpe. Estou no meu inferno zodiacal, deve ser isso.
- Quantos anos você vai fazer?
- Quarenta e um.
- É, já está na hora de você ter um livro de sucesso."
[ai, alguém perdeu os dedos aqui...]
...
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