"Fruto de enganos ou de amor,
nasço de minha própria contradição.
O contorno da boca,
a forma da mão, o jeito de andar
(sonhos e temores incluídos)
virão desses que me formaram.
Mas o que eu traçar no espelho
há de se armar também
segundo o meu desejo.
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Terei meu par de asas
cujo vôo se levanta desses
que me dão a sombra onde eu cresço
- como, debaixo da árvore,
um caule
e sua flor."
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[lya luft - retirado do "perdas e ganhos" >> relendo pela milésima vez.]
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esse poema abre o capítulo 2 e, um poquinho mais adiante, tem um trechinho que me fez parar pra pensar: como a gente cresce e muda, vira um personagem. se não nos vigiamos, muitas vezes acabamos sendo outro... sabe aquela coisa de perder a identidade? sem nem perceber?
às vezes vejo gente mudando por causa de namoro... em outras, as pessoas mudam pra agradar alguém, pra 'comprar' uma amizade... enfim.
daí vem a vida, te dá um tapa na cara e te faz acordar.
acontece, gente... acontece.
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"Muito escutei na infância: "Criança não pensa."
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Criança pensa. Mas faz também algo mais importante, que amadurecendo desaprendemos: ela é. Contemplando uma mancha na parede, um inseto no capim ou a revelação de uma rosa, ela não está apenas olhando. Está sendo tudo isso em que se concentra. Ela é o besouro, a figura na parede, ela é a flor, o vento e o silêncio.
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Da mesma forma ela é a frieza ou a angústia dos adultos, sua superficialidade e frieza ou seu amor verdadeiro.
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E precisa que às vezes a deixem quieta, sem exigir que a toda hora se mexa, corra, fale, brinque, como se contemplação fosse doença."
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