que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
— já me aconteceu antes.
Pois sei que
— em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade —
essa clareza de realidade é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém."
[clarice lispector]
.
2 comentários:
-Hahaha...
Você não sabe o que ocorreu. Enquanto lia, pensando ser de sua autoria o poema, já arquitetava em minha mente o comentário... Eu iria dizer:
"Eu te entendo, isso é semelhante aos momentos de Epifanía descritos por CLARICE LISPECTOR[!!!]"
Comcluo a leitura meio perplexo, afinal realmente se trata de um poema de Clarice.
Ela é simplismente fantástica. Me identifico com esses momentos de epifanía que ela descreve. Isso é algo constante dentro de mim.
Grande Abraço.
Josh.
hahahahah
não, eu não tenho tanto talento para escrever assim. por isso me espelho nas obras de outros...
e ela é ótima mesmo! apesar de ter coisas um pouco dramáticas/exageradas demais...
;)
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